Argumentamos em nosso último artigo que a economia brasileira ainda vive um trimestre de crescimento negativo, que deverá se estabilizar nos próximos meses, retomando o crescimento em 2017.

Os impactos dessa evolução sobre as empresas que operam no Brasil devem ser muito amplos. Não se pode perder de vista que não tivemos apenas uma troca de presidente, mas que vivemos uma mudança estrutural profunda centrada em dois pontos: o fim de um sistema de poder que governa o Brasil desde 2003 e o simultâneo fracasso de um modelo de crescimento fechado e com comando de um Estado excessivamente grande e ambicioso.

Como consequência, estamos vendo o fim de um determinado sistema de incentivos (até porque o Tesouro está esgotado), o colapso de um sistema de compadrio e de escolha de vencedores e a utilização da corrupção em larga escala como forma de exercer o poder. Tudo isso em meio a uma recessão profunda.

Como essa situação tem impacto nas empresas?

(1) Crise profunda no sistema estatal, que pretendeu puxar o crescimento. Falamos, especialmente, da Petrobrás e da Eletrobrás. Seu esfacelamento financeiro e a péssima regulação em curso estão afetando negativamente o sistema de fornecedores e, praticamente, todas as empresas elétricas.

(2) Virtual desaparecimento das empresas que mais se abraçaram ao projeto do lulopetismo, começando pelo grupo de Eike, passando pelas empreiteiras e chegando aos estaleiros.

(3) Como sempre acontece em grandes recessões, todas as empresas muito alavancadas financeiramente estão pagando um pesado preço. Isso vai de campeões nacionais da telefonia até mesmo a certas empresas do agronegócio, único setor que está atravessando bem a crise. Veremos, ainda, muitas falências, recuperações judiciais e consolidações de ativos.

Esse grupo de companhias é que vai explicar por que o desemprego ainda vai se elevar até o fim do ano.

Quais serão os ganhadores que poderão se aproveitar da perspectiva de recuperação da economia?

(1) Empresas nacionais com estratégia definida e boa disciplina de capital.

(2) Empresas do agronegócio e exportadores com projetos consistentes, o que inclui a perspectiva de internacionalização das companhias.

(3) Empresas médias ou pequenas pouco alavancadas, que se beneficiarão especialmente da otimização de suas operações, da recuperação das vendas e da perspectiva de termos o juro básico da economia de um dígito, que veremos em 2017.

(4) Multinacionais que operam há muitos anos no Brasil. Essas companhias dispõem de tecnologia, boa governança, baixo custo de oportunidade do dinheiro (o juro lá fora é zero) e têm perspectiva de longo prazo. Serão os grandes ganhadores na retomada.

(5) Uma nova safra de empresas que nascem de inovações (tecnológicas, de modelo de negócios e outras) e que já têm desde o início uma perspectiva global.

Nova geração. Um novo tipo de empresa está nascendo e se expandindo. O grupo não é especialmente grande e, como tal, não é capaz de, isoladamente, se contrapor à avalanche recessiva. Entretanto, num cenário de estabilização e reinício do crescimento, elas deverão jogar um papel de crescente relevância. A desvalorização cambial tornou a mão de obra qualificada muito mais competitiva em relação ao mundo desenvolvido. Muitas dessas companhias nascem de esforços de poucos jovens, no mais das vezes com ideias e experiências desenvolvidas no exterior, seja em universidades ou empresas.

No Brasil dos últimos anos, um ambiente propício está se desenvolvendo rapidamente, em lugares como parques tecnológicos, incubadoras, universidades, aceleradores de startups e organizações de suporte ao empreendedorismo. Nesse novo mundo, há grande variedade de setores em desenvolvimento. Dois, especialmente, chamam a atenção: serviços e agronegócio.

Na área de serviços, dois segmentos têm destaque: empresas de tecnologia da informação, especialmente dedicadas à gestão de empresas, que se encontram num ativo e avançado processo de internacionalização. Nessa área, nem todas as empresas são muito novas, mas buscam exercer essa visão global com razoável sucesso.

Outro segmento bastante relevante é o das inovações financeiras, nas chamadas fintechs. Estima-se que existam hoje mais de 300 empresas nessa área, algumas das quais já atingindo porte razoável. Aqui, o centro da competitividade são as plataformas tecnológicas e o forte uso de grandes bancos de informação, computação em nuvem e outras inovações.

O sistema bancário tradicional já percebeu que tem nessas startups uma ameaça importante. Além disso, existe grande variedade de outras empresas que vão da gestão de frotas à manutenção de aeronaves.

O segundo segmento que chama atenção é aquele ligado ao agronegócio. Aqui também a lista é ampla: sistemas de gestão de empresas agrícolas, de plantel de animais, insumos biológicos etc. Em particular, chama muito atenção o conjunto de empresas e sistemas ligados à chamada agricultura de precisão.

Todas essas iniciativas e ferramentas resultam em expressivas elevações da produtividade nas suas respectivas áreas e é, por isso, que chamam tanto atenção. Afinal, estamos num País no qual a tradição de inovação tecnológica está essencialmente ligada à aquisição de equipamentos. Sistemas e plataformas poderão, mesmo, revolucionar muitos segmentos de produção, como acontece em outros lugares do mundo.

 

Link original da matéria: http://economia.estadao.com.br/noticias/geral

    

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