A China resolveu elevar a importação de alimentos e a notícia é boa para o Brasil. A expectativa é que a retomada do crescimento da economia brasileira seja puxada pelo agronegócio brasileiro, que deve ampliar ainda mais as exportações para o gigante asiático. Na edição do Mercado&Cia desta quinta-feira, o economista e sócio da MB Associados, José Roberto Mendonça de Barros, projetou as mudanças que podemos esperar.

A China vai demandar mais alimentos do Brasil?

Nós estamos convencidos disto já há um ano e meio. A China resolveu aumentar as importações em geral, especialmente as importações do Brasil. O tamanho das operações chinesas é muito grande e só dois países do mundo tem condições de atender a demanda chinesa, que são Estados Unidos , que já o fazem numa escala razoável, e o Brasil, que sempre fez na área da soja e está ampliando para outras áreas.

Isso vai intensificar o consumo e pode gerar um novo ciclo de alta das commodities?

Não necessariamente, mas certamente de firmeza das commodities. No caso de algumas das altas recentes, tem tudo a ver com a tradicional quebra de safra que é o que está acontecendo com a soja. O disponível está muito vazio, muito seco porque na Argentina o clima está tomando um pedaço da produção e isso se junta com a força da demanda chinesa. Já melhoraram as cotações, mas dependemos muito do valor do dólar frente a outras moedas, mas certamente já dá para dizer que bons preços continuarão ocorrendo nos próximos meses.

Que culturas devem ser influenciadas pelo aquecimento da demanda chinesa?

Antes de tudo os grãos. Já temos o milho em preços surpreeendentemente altos, desde o final do ano passado. Agora a soja deu essa arrancada e com essa força foi surpresa para mim também. O que tem de mudança de fato é que a demanda de carne vermelha está crescendo, os hábitos chineses estão mudando e eles que não tinha tradição como importadores de carne vermelha, agora já compram mais de 1 milhão de toneladas. Não é pouca coisa,não. Carnes tem coisa nova, até o frango está começando a entrar com mais força. No caso de grãos, a demanda aumenta direta e indiretamente. Tem a exportação direta de soja e milho e, indiretamente, pelo que vai embutido nos animais.

Com qual cenário o produtor brasileiro deve trabalhar já para o segundo semestre deste ano?

Ontem saiu o PIB do primeiro trimestre e foi muito ruim. Nós achamos que a economia urbana estabiliza no segundo semestre e no ano que vem a economia brasileira vai crescer pelo menos 2%, puxada pelo agronegócio. Nós projetamos que o agronegócio vá crescer quase 4% no próximo ano, desde que o clima não atrapalhe. Além disso, é positivo para o agronegócio a redução das taxas de juros do Banco Central a partir de julho. Nós esperamos que até o começo do ano que vem a taxa Selic caia 300 pontos e isso vai influenciar o custo do crédito livre para o agricultor, o que dá um impulso adicional para a agricultura. O cenário é muito favorável para o setor agrícola. Os grãos, carnes, celulose tem subido, o açúcar está num preço excepcional também em parte por conta dos chineses. Praticamente todos os produtos estão numa fase bastante positiva.

O cenário escassez de grãos tem levado agroindústrias a fechar as portas e dar férias coletivas, como o país vai suprir esse problema se a previsão é de exportações bastante fortes?

O plantio vai responder favoravelmente e, se o clima na atrapalhar a produção, vai aumentar. Só o aumento da produção de grãos vai permitir manter e expandir a exportação e manter a demanda maior por parte dos produtores de carnes. Ainda que temporariamente haja uma escassez no disponível, temos que pensar que isso é temporário. O aumento de preços aos produtores de grãos vai levar uma resposta no plantio que está se avizinhando, aumento de produção e o ciclo pode continuar positivo, o que é nossa expectativa.

Será que teremos crédito e condições de mercado que incentivem esse aumento de produtividade? Mesmo com informações de Brasília, de que as taxas de juros não vai cair no Plano Safra?

A produtividade pode cair, mas não acredito que vai ser o caso. Apesar do crédito rural estar como está, acho que existe um volume razoável de crédito. O que temos no sistema produtivo é que muitos produtores tomaram muito dinheiro num passado recente e estão com dificuldades de rolar suas posições. O que eu vejo em cooperativas e em outros tipos de produtores, aqueles que tiveram alguma cautela financeira e acumularam ganhos na operação, vão poder aumentar a produtividade e a produção sem maiores problemas.

 

Link original da matéria: http://blogs.canalrural.com.br/kellensevero/2016/06/02/prepare-se-os-chineses-vao-comprar-mais-soja-milho-e-carne/

    

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