Com o mercado financeiro na gangorra diante das altas e baixas da probabilidade de impeachment, ao sabor do cada vez mais intrincado noticiário político, é útil pensar detalhadamente nos diferentes cenários: a presidente Dilma Rousseff é destituída em breve, com o impeachment sendo aprovado na Câmara; ou permanece no cargo, enfrentando a gravíssima crise econômica e outros processos de impedimento.

Foi sobre essa segunda alternativa que a coluna conversou com José Roberto Mendonça de Barros, sócio-fundador da consultoria MB Associados, e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda no governo de Fernando Henrique Cardoso. José Roberto (é preciso usar seu primeiro nome, para evitar confusão com o seu também famoso irmão, Luiz Carlos Mendonça de Barros) é conhecido por ser um analista ponderado, que nunca perde o foco na economia real.

E é pelo mundo das empresas que ele começa a fundamentar sua visão profundamente pessimista do cenário em que Dilma permanece no governo. “Está crescendo o número de empresas em situação financeira difícil, isto é algo que todas as instituições financeiras relatam”, diz.

José Roberto aponta que uma empresa bem gerida e eficiente, que sofra uma queda de 15% no seu faturamento, pode facilmente ver seu endividamento pular de duas vezes, ou ligeiramente mais, do Ebidta – um nível razoável para a razão entre dívida e lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização – para algo como 4 a 4,5 vezes, o que, segundo o economista, “não é manejável”.

“Há empresários fazendo das tripas coração para evitar a recuperação judicial”, ele acrescenta, notando que as recuperações judiciais em 12 meses saltaram de cerca de 600 no final de 2014 para mais de 1.200 em março deste ano.

“Todos os bancos relatam um bocado de gente com o pé no abismo, empresas que não vão aguentar mais seis meses de recessão”, continua o economista. Assim, a taxa de desemprego deve atingir 12% no final do ano, realimentando a queda da atividade. Outra preocupação é que os serviços e comércios também entraram na “roda das dificuldades”, que inicialmente se atinha à indústria e à construção.

No front fiscal, José Roberto diz que “a situação é um horror, e tende a piorar com as decisões recentes do governo para sobreviver politicamente”. Ele ressalva que o rápido ajuste externo e melhores notícias no front inflacionário são fatores positivos, mas observa que, no cenário de continuidade de Dilma, o câmbio deve voltar a se desvalorizar, pressionando novamente a inflação. Neste caso, a esperada queda dos juros, que poderia se contrapor à queda da atividade, pode ser inviabilizada.

O economista prevê que, nos próximos seis meses, a economia não se levanta, seja qual for o governo. O problema da sobrevivência de Dilma, para ele, é que isto eliminaria também as chances de recuperação mais adiante.

“O investimento entrou em colapso, o setor de petróleo está de joelho, o elétrico vai mal e nas concessões está provado à exaustão que a desconfiança deste governo em relação ao setor privado é um obstáculo – nos últimos meses foram adiados todos os leilões, nenhum se manteve”. Assim, ele continua, “não há qualquer chance de retomada do investimento no cenário de continuidade, porque as expectativas ruins, que são o pano de fundo de tudo isso, vão continuar ruins”.

Segundo José Roberto, “é preciso acreditar em Papai Noel para achar que um governo destroçado, francamente minoritário e cada vez mais fraco tem condição de fazer qualquer coisa – se a presidente Dilma ficar, será uma tremenda vitória de Pirro”. Ele nota que, ao contrário, os últimos sinais do governo têm sido de “gastar, gastar e gastar”.

Quanto à possível presença de Lula no governo, comandando uma tentativa de retomada, o economista é inteiramente cético: “O presidente Lula gastou sua credibilidade, e o que faz hoje é uma proposta agressiva para esquerda e para a fisiologia, de tentar acomodar, agasalhar e distribuir para todo mundo”.

Só que a receita não tem chance de dar certo, para José Roberto. Ele aponta a recente venda de R$ 23 bilhões de ativos podres pela Caixa Econômica Federal, ao mesmo tempo em que os bancos privados se retraem no crédito. “Expandir os empréstimos agora só vai gerar ativo podre”, prevê.

Para o economista, “a credibilidade do Lula entre os empresários hoje é muito menor e ele não tem nenhuma margem – o que ele propõe é mais do mesmo, o keynesianismo de pé quadrado que quebrou o País a partir de 2011.

 

Link original da matéria: http://economia.estadao.com.br/blogs/fernando-dantas/jr-mendonca-de-barros-e-o-cenario-dilma/

    

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